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Poluição excessiva vai aumentar pressão por eficiência energética nos próximos anos, diz Fábio Feldmann

A poluição gerada pela concentração de gases de efeito estufa tem se acumulado na atmosfera em ritmo acima do esperado e vai aumentar a pressão por regras mais rígidas de gestão ambiental e eficiência no controle de emissões, afirma o ambientalista e ex-secretário do Meio Ambiente do estado de São Paulo Fábio Feldmann. “Isso abre mais possibilidades de desenvolvimento tecnológico”, acrescenta. No Brasil, empresas que usam tecnologias sustentáveis para diminuir emissões de gases de efeito estufa (GEE) estão tendo sucesso e dão o exemplo de como produzir de forma mais limpa.

Relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado em 24 de outubro, mostra que o volume de gases poluentes na atmosfera ultrapassou a faixa de 400 ppm (partes por milhão) em 2015. “Esse patamar era previsto apenas para daqui a alguns anos”, ressalta Feldmann. “Se o mundo continuar lançando GEE no ritmo atual, logo chegaremos a uma concentração de 450 ppm.” De acordo com o Painel Intergovernamental da ONU sobre Mudanças Climáticas (IPCC), uma média anual de 400 ppm de concentração de CO₂ pode elevar a temperatura global em pelo menos 2°C.

A OMM faz parte da Organização das Nações Unidas (ONU) e revela que o patamar foi alcançado em algumas partes do mundo anteriormente, “mas nunca em dimensão mundial durante um ano inteiro”. O volume de GEE não vai baixar durante as próximas gerações, acrescenta a agência.

A principal concentração de elementos poluentes é de gás carbônico (CO₂), liberado com a queima de combustíveis fósseis e desmatamento. O acúmulo de CO₂ no ar está diretamente relacionado a eventos climáticos intensos, como chuvas e secas prolongadas fora de época. Uma das consequências de curto prazo da piora da qualidade do ar é o foco em ações locais, segundo Feldmann. “A confirmação do dado vai favorecer ações de reflorestamento para mitigar os efeitos e significa que as próximas negociações globais sobre o clima ficarão mais ambiciosas.”

Muitas empresas já estão se esforçando para diminuir suas emissões e minimizar o impacto de sua produção no meio ambiente. A PepsiCo, dona da marca Quaker, deixou de emitir cerca de 1 mil toneladas de GEE reaproveitando resíduos de biomassa na produção. Na fábrica da Quaker em Porto Alegre (RS), a casca da aveia que sobra da produção está sendo usada na geração de vapor para a caldeira, substituindo o gás natural. O projeto ganhou o Prêmio Eco 2013 na modalidade Práticas de Sustentabilidade.

A ideia de aproveitar a casca de aveia foi devido ao alto poder calorífico e baixa produção de cinzas no processo. De acordo com a PepsiCo, a queima da casca do cereal produz 4.395 kcal/kg. É uma capacidade energética 30% superior ao de outros insumos. Além de poluir menos, a nova fonte reduziu a compra de 43 mil metros cúbicos (m³) mensais de gás natural e deixou a conta de energia da produção de aveia industrializada 40% mais barata. O sucesso da ideia motivou a PepsiCo a replicar o projeto com outros insumos na biomassa.

A montadora Fiat, que participou do Prêmio ECO em 2015, desenvolve ações para reduzir emissões de CO2 nos processos produtivos. Economizando energia elétrica e outras fontes de forma mais eficiente, a fábrica de Betim (MG) deixou de emitir 20 mil toneladas de CO₂ entre 2012 e 2015.  No período, cada veículo foi produzido com 10% a menos de emissão de CO₂.

Além da eficiência em processos, a Fiat pesquisa inovações para que os próximos modelos de carros saiam da fábrica menos poluentes. O projeto Girassol, ainda em fase experimental, usa 25 carros da marca que circulam na região de Belo Horizonte com equipamentos que colhem dados de emissão de gases pelo escapamento. As análises colhidas servirão para embasar tecnologias automotivas mais limpas.

A Cargill  deixou de emitir dez mil toneladas de gás carbônico na produção do molho de tomate Pomarola entre 2013 e 2015. Mudando e aumentando a eficiência dos processos, a etapa que mais evitou emissões foi a de reaproveitamento de resíduos, segundo Márcio Barela, coordenador de sustentabilidade da Cargill Foods Brasil. O projeto foi inscrito no Prêmio ECO em 2015.

A pele e a semente que sobravam do processo produtivo eram descartadas em aterros sanitários, aumentando a emissão de gás carbônico e metano. “Fizemos parceria com um laboratório para que o rejeito fosse reaproveitado por meio de compostagem”, disse Barela. A técnica que consiste em controlar a decomposição de materiais orgânicos para criar material rico em húmus e nutrientes minerais passou a ser adotada nas plantações da Cargill. “Com o projeto, deixamos de emitir mais de 200 quilos de gás carbônico por tonelada”, detalha o executivo.

A empresa também redesenhou o uso de caminhões para transporte de produtos para maximizar a eficiência dos materiais carregados e economizar combustível. A frota que circula diariamente para transportar os produtos da Cargill chega a 130 veículos, estima Barela. “O impacto é significativo. Ao melhorar o transporte, reduzimos o número de viagens e consumo de diesel.”

Outra ação para diminuir a emissão de GEE é evitar o desmatamento, um dos principais responsáveis da concentração de CO2 no ar. A Cargill exige de seus fornecedores certificação de que as matérias primas agrícolas não venham de áreas desmatadas. “A soja e a palma são materiais críticos para nossa produção, e aderimos ao compromisso de não comprar matérias-primas de produtores sem certificação. Há até mapeamento por satélite para saber se a área de plantio das fazendas passou por algum processo de desmatamento recente”, detalha Barela.

A inspiração para minimizar os impactos ambientais afeta toda a cadeia de produção. O executivo disse que a ideia de aplicar conceitos de respeito socioambiental em uma linha de produtos surgiu com o convite para participar do programa Sustentabilidade de Ponta a Ponta, do Walmart. Em 2009, o varejista sugeriu que trinta fornecedores, entre eles a Cargill, desenvolvessem práticas sustentáveis no desenvolvimento de produtos. Em 2014, o Walmart concorreu ao Eco com o programa.

O programa do Walmart teve origem em estudos para avaliar os impactos da cadeia varejista no meio ambiente. A análise revelou que 8% decorrem diretamente da operação do varejo, enquanto os 92% restantes estão relacionados a outros agentes, como fornecedores e clientes. Entre 2009 e 2013, 41 empresas de todos os portes, brasileiras e globais, aderiram ao programa. A redução das emissões globais de CO2 girou em torno de 4.291 toneladas, equivalente a 23,9 milhões de quilômetros rodados em caminhões.

Para Barela, da Cargill, o engajamento ambiental é um compromisso que tem ser assumido por todos. “Não dá para fazer tudo sozinho. O principal é envolver a cadeia de fornecedores e parceiros em projetos de sustentabilidade e trabalhar na conscientização dos clientes, para que o compromisso de poluir menos tenha sucesso.”



Publicado em 19 de janeiro de 2017 / estadao.com.br


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